08 outubro 2010

SIM, PIERRE LÉVY VEM AO RECIFE

Por Karla Vidal

Para escrever este texto para a Cajumanga meu primeiro passo foi fazer uma pesquisa básica sobre o filósofo Pierre Lévy. Para isso, utilizei o Google (uma das ferramentas analisadas por Lévy). Vou reproduzir alguns resultados:

Pierre Lévy: aproximadamente 401.000 resultados

Pierre Lévy + inteligência coletiva: aproximadamente 16.200 resultados

Pierre Lévy + cibercultura: aproximadamente 62.000 resultados (pesquisa geral) e 4.740 resultados (artigos acadêmicos)

Ficou clara para mim a dificuldade de se produzir uma matéria sobre o filósofo diante da imensa quantidade de informação e referências disponíveis na rede. Seguindo a lógica do pensamento do próprio Lévy, quando afirma que “é necessário que cada grupo ou indivíduo faça sua própria seleção, de modo a dar um sentido ao dilúvio de informações em que estamos vivendo” senti a necessidade de desenvolver a minha própria seleção de informações sobre o pensador.

É inegável a importância do trabalho de Pierre Lévy para esta e para as futuras gerações. É difícil encontrar estudantes de comunicação, letras, educação, informática, design e de outras áreas que não tenham entrado em contato ou não tenham ouvido falar de algum dos livros do filósofo. As tecnologias da inteligência; O que é o virtual?; A inteligência coletiva e; Cibercultura são algumas de suas obras mais famosas e, claro, referência bibliográfica certa nos programas de muitas disciplinas nas universidades brasileiras. Multidisciplinar, arrisco dizer que a produção de conhecimento do Pierre Lévy interessa a todos na academia.

Ao contrário do que muita gente acredita – eu também pensava assim -, Pierre Lévy não é francês. O criador do conceito de inteligência coletiva na era digital nasceu na Tunísia, em 1956 para ser mais exata. Não sei se ele é muito simpático ao fato de ter sua data de nascimento publicada na Internet... Mas, já compartilhei. Encontrei os dados na Wikipedia que está aí para nos ajudar enquanto importante fonte de busca e produção colaborativa de conteúdo. Apesar de não ser francês, foi na França que cursou o mestrado em História da Ciência e o doutorado em Sociologia e Ciência da Informação e da Comunicação, todos na Universidade de Sorbonne (Université Paris-Sorbonne - Paris IV).

Hoje, Pierre Lévy é professor titular da cadeira de Pesquisa em Inteligência Coletiva da Universidade de Ottawa, no Canadá. Em suas palestras aborda maneiras de construir relações lógicas no aparente caos da informação disseminada na Internet e nas redes sociais.

Talvez as obras mais representativas do professor, no Brasil, sejam As tecnologias da inteligência, O que é o virtual? e Ciberdemocracia. Nestes livros Lévy defende a ideia de que o gerenciamento adequado da inteligência coletiva pode contribuir para que os Estados se tornem mais democráticos e igualitários. “É preciso desvendar o modo como as redes sociais se relacionam com redes de comunicação, redes materiais, do meio ambiente e como se relacionam a governos, valores, direitos e à economia”, afirma o filósofo.

Mas o que mais me chama atenção no trabalho de Pierre Lévy não é a capacidade de teorizar sobre comunicação e tecnologias. Tal capacidade por si só já é algo bastante considerável, mas que não é mérito só dele. O que eu mais admiro é a sua capacidade de antecipar, fazer previsões com base em projeções e acertar, todas acerca das novas formas de produção e difusão de informação e conhecimento, muitas delas potencializadas pelo uso da Internet e das redes sociais online.

Em 1999 não existia Twitter, Facebook, Orkut, Youtube e quase nenhuma das mídias sociais que hoje fazem parte do nosso dia-a-dia. 1999 foi o ano em que eu criei minha primeira conta de e-mail. Internet em Caruaru era algo bem difícil naquela época. Só comecei a ter real acesso à web quando cheguei ao Recife. Pois bem, em 1997, dois anos antes disso tudo, Pierre Lévy lançava o livro Cyberculture obra em que analisa, entre muitas outras questões, a interatividade, o virtual, a democracia eletrônica e a virtualização do saber e da comunicação. Com Cyberculture Lévy antecipava o que vivemos hoje com todo esse dilúvio digital.

Hoje, Lévy continua antenado, participa de algumas redes sociais como o Twitter e o Delicious e continua antecipando e fazendo projeções. Seu projeto mais recente diz respeito à criação de uma linguagem que dará à Web um caráter verdadeiramente universal e que permita a potencialização da inteligência coletiva.

O texto de José Paulo de Araújo, do blog Tudo 2.0 explica bem as intenções do filosófo “O que Lévy e sua equipe de pesquisadores propõem é um sistema universal de codificação das ideias e conceitos que independa das linguagens naturais, da mesma forma que, por exemplo, o formato MP3 independe da linguagem musical utilizada. Esse sistema universal originaria uma web de metadados – como nas tags criadas espontaneamente pelos blogueiros – anexa (e jamais oposta) à web de dados que já existe. Ele explica que, com o poder computacional descentralizado que temos hoje, graças à computação em nuvem, tudo o que falta é justamente o tal sistema simbólico unificador”.

Eu não pretendo aqui me prolongar discutindo os conceitos tratados por Pierre Lévy. Se eu quisesse também não poderia fazê-lo no espaço de uma matéria. São questões para serem abordadas em artigos, ensaios, teses etc. Livros e textos do pesquisador podem ser encontrados facilmente na Internet. Acessando-os, você pode traçar sua própria linha de pensamento com base nos conceitos dele.

O que eu quero realmente é chamar atenção para o fato de que Pierre Lévy estará no Brasil, mais precisamente na UFPE, Recife, nos próximos dias 02 e 03 de dezembro. É a oportunidade que nós temos para ouvir este importante pensador. Não é a primeira vez que Lévy vem ao Brasil, outras cidades já tiveram o privilégio de recebê-lo. Porém, será a primeira palestra do pesquisador em solo pernambucano.

Lévy estará em Recife para a conferência de abertura do 3º Simpósio Hipertexto e Tecnologias na Educação: redes sociais e aprendizagem, intitulada L'hipertexte opaque à l'hypertexte transparente e que será proferida em inglês.

As inscrições para apresentação de trabalhos já foram encerradas. No entanto, ainda restam vagas para ouvintes. Nos encontramos por lá!

Mais Informações
Website: http://www.ufpe.br/nehte/simposio2010
Email: simposiohipertexto@gmail.com

Realização
Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologia Educacional (NETHE/UFPE) e Associação Brasileira de Estudos de Hipertexto e Tecnologia Educacional (ABEHTE).

Apoio
UFPE, Propesq, Departamento de Letras, Pós-Graduação em Letras, Editora Universitária, Pluri Educacional, Rêspel Editora, Editora Vozes e Pipa Comunicação.

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